Agronegócio descarta toneladas de alimentos para manipular preços enquanto brasileiros passam fome

Enquanto mais de 33 milhões de brasileiros enfrentam a fome, o agronegócio descarta toneladas de alimentos para manipular os preços no mercado. Em diversas regiões do país, produtores jogam fora frutas, verduras e grãos com o objetivo de reduzir a oferta e, assim, garantir preços mais altos para os produtos que chegam aos supermercados.

A prática, embora seja vista como uma estratégia de mercado, expõe a contradição do modelo agrícola brasileiro, que prioriza o lucro de grandes produtores e exportadores em detrimento da segurança alimentar da população. Diferente da agricultura familiar, que alimenta a maioria dos brasileiros, o agronegócio monopoliza a produção e usa táticas predatórias para manter sua margem de lucro.

O desperdício como estratégia de mercado

Nas últimas semanas, vídeos e denúncias de produtores descartando toneladas de alimentos circularam nas redes sociais, gerando revolta entre consumidores e especialistas em segurança alimentar. Para evitar a queda nos preços, muitos agricultores optam por destruir colheitas ou deixá-las apodrecer, ao invés de vender os produtos a preços mais baixos ou doá-los a quem precisa.

“Esse tipo de prática é uma perversidade diante da realidade que vivemos. O Brasil voltou ao Mapa da Fome, e ao mesmo tempo, vemos comida sendo jogada fora em nome da especulação. Isso demonstra o poder que o agronegócio tem sobre a economia e como ele influencia os preços para garantir seus interesses”, afirma a economista e pesquisadora Mariana Leal.

A influência do agronegócio e a falta de regulação

O setor agropecuário, um dos mais poderosos do Brasil, tem grande influência sobre políticas públicas e decisões governamentais. Bancadas ruralistas no Congresso e forte lobby junto a governos garantem que práticas como essa permaneçam impunes. A falta de regulação sobre o desperdício e a ausência de políticas públicas para destinação de excedentes alimentares permitem que toneladas de comida sejam desperdiçadas sem qualquer consequência.

“O que falta no Brasil é uma política séria de controle sobre o desperdício de alimentos e um compromisso real com a segurança alimentar. Outros países adotam medidas para evitar esse tipo de manobra, seja impondo multas, seja incentivando a doação de alimentos excedentes”, explica o sociólogo e especialista em políticas agrárias Rafael Moreira.

Alternativas e resistência

Enquanto o agronegócio manipula os preços, iniciativas populares e movimentos sociais tentam minimizar os impactos da fome e do desperdício. Associações de agricultores familiares, cooperativas e organizações sem fins lucrativos lutam para que os alimentos cheguem à mesa da população.

O fortalecimento da agricultura familiar, a taxação do grande agronegócio e a implementação de políticas públicas de segurança alimentar são medidas urgentes para combater essa prática perversa. “Precisamos de um modelo agrícola que pense no povo, e não apenas no mercado. Enquanto o alimento for tratado como mera mercadoria, e não como um direito, continuaremos vendo essa cena absurda: comida no lixo e gente com fome”, conclui Mariana Leal.

A fome no Brasil não é uma fatalidade, mas o resultado de escolhas políticas e econômicas. E enquanto o agronegócio seguir impune, lucrando com a miséria, milhões de brasileiros continuarão sem ter o que comer.

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