Um Cristão Pode Ser Comunista?

Conservador e de direita é que não pode ser. Brincadeiras à parte, vamos à análise concreta.
Poderíamos estruturar esta reflexão com exegese bíblica e estudos teológicos, mas para não nos alongarmos, fiquemos no essencial. Dizer que Jesus era comunista no sentido moderno é um anacronismo – Marx e Engels escreveram suas obras no século XIX. Mas afirmar que Jesus não se preocupava com as injustiças sociais ou que não esteve entre os pobres e marginalizados é uma aberração histórica.

Jesus não falou diretamente sobre sistemas econômicos, mas condenou o amor ao dinheiro, deixando claro que ele é um dos maiores inimigos da fé (Mateus 6:24). Ora, o capitalismo é a materialização dessa idolatria: acumulação sem limites, lucro acima das pessoas, exploração e expropriação dos mais fracos. Como um cristão pode defender um sistema que joga milhões na miséria enquanto poucos concentram riquezas obscenas?

Agora, voltando à pergunta: um cristão pode ser comunista? A resposta exige mais que um texto curto, mas ofereço um caminho para a reflexão. Se Jesus voltasse hoje, estaria entre os milionários, os detentores da “fé, moral e bons costumes”? Ou estaria ao lado dos marginalizados, daqueles que lutam por justiça social, muitas vezes dentro da esquerda e do pensamento marxista? A defesa dos pobres não é apenas uma posição política, mas o próprio cerne do Evangelho.

Os Atos dos Apóstolos (At 2,44-45) mostram que a Igreja Primitiva vivia uma lógica de partilha radical: “todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum; vendiam suas propriedades e bens e distribuíam o dinheiro conforme a necessidade de cada um.” Não se trata de um comunismo moderno, mas a lógica do Reino é clara: não é acumular, e sim repartir.

Afirmar que um cristão não pode ser comunista é ignorar a própria história. A Teologia da Libertação, desenvolvida por nomes como Gustavo Gutiérrez, Leonardo Boff e Frei Betto, resgatou essa dimensão revolucionária do cristianismo, mostrando que a fé e a luta por justiça social andam juntas. Durante as ditaduras militares na América Latina, padres, religiosos e leigos organizaram comunidades e resistências contra os regimes opressores. Enquanto setores conservadores da Igreja se aliavam a elites econômicas e governos autoritários, cristãos comprometidos com o Evangelho estavam nos sindicatos, nas bases populares e nas pastorais sociais, lutando pelo povo. O amor revolucionário do “Jovem Jesus” rompe com todas às formas de opressão.

Nos acusam de “usar a Igreja para promover políticas comunistas”, mas Frei Betto, no Diário de Puebla, já denunciava que, na verdade, são os setores conservadores e de extrema-direita que há séculos tentam comprar a Igreja – sempre com as mesmas 30 moedas de prata. A história não nos deixa esquecer: muitos cristãos foram cúmplices de regimes fascistas e nazistas, e nunca foram acusados de “inimigos da fé”.

Em tempos sombrios como estes, jesus não abandona a promessa de caminhar conosco. Em tempos, que o “fantasma” de tudo que é ruim, o escape deste sistema em colapso, insiste em vir à tona novamente, nós nos recordamos que ser cristão é seguir Jesus, e seguir Jesus é estar ao lado dos pobres e oprimidos. Se isso parece comunismo para alguns, talvez o problema não esteja na política, mas no Evangelho que eles insistem em ignorar.

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