Reverendo Padre, permita-me um diálogo fraterno, mas direto. Seu texto é bem escrito, mas peca exatamente onde deveria ser mais incisivo. O problema não é a falta de “responsabilidade pessoal”, mas a recusa em nomear os verdadeiros culpados. Afinal, não é o indivíduo comum que devasta a Amazônia com correntes e motosserras, nem que despeja toneladas de poluentes nas águas e no ar.
A ideia de que desastres naturais acontecem porque “não respeitamos a natureza” é uma simplificação perigosa. A ciência já nos alertou sobre os pontos de não retorno da crise climática. Quem os ultrapassa não são cidadãos esquecendo de apagar a luz ou reciclar plástico, mas sim as grandes corporações e os países imperialistas que exploram recursos de forma predatória. O agronegócio, por exemplo, sozinho desmata mais do que 99% da população mundial jamais poderia, e a pecuária derruba mais floresta do que qualquer frota de carros poderia poluir.

Não há solução sem mudança de sistema. O capitalismo não apenas destrói a natureza, mas se baseia nisso para crescer. Como afirma John Bellamy Foster, “o capitalismo não pode resolver a crise ambiental porque o próprio sistema depende do crescimento infinito, algo impossível em um planeta finito” (A Ecologia de Marx, 2000). O fracasso do Acordo de Paris não foi acidente, mas consequência lógica de um modelo econômico que prioriza lucro sobre a vida. Como Michael Löwy destaca, “a lógica da acumulação capitalista e da competição leva inevitavelmente à devastação do meio ambiente” (O que é Ecossocialismo? 2012).
O ecossocialismo nos ensina que não basta adaptar o sistema, é preciso superá-lo. Magdoff e Foster são diretos: “Enquanto o capitalismo existir, ele sempre buscará novos mercados, novos recursos para explorar e novas formas de acumulação – e isso significa destruição contínua da natureza” (O Que Todo Ambientalista Precisa Saber Sobre o Capitalismo, 2011).
Se a natureza não perdoa, tampouco deveríamos perdoar os responsáveis por sua destruição. E esses responsáveis têm nome, endereço e conta bancária recheada.