Leon Trótski foi um dos principais líderes da Revolução Russa de 1917, organizador do Exército Vermelho e defensor da democracia operária contra a burocratização do Estado soviético. Seu legado, porém, vai muito além do contexto histórico da União Soviética. Em tempos de crise global do capitalismo, ascensão de governos autoritários e traições reformistas dentro da esquerda, o pensamento de Trótski segue fundamental para quem luta pela revolução socialista.
A degeneração burocrática da União Soviética sob o stalinismo não foi um acidente, mas o resultado da contrarrevolução dentro do próprio Estado operário. Stálin e sua máquina repressiva destruíram a democracia dos sovietes, eliminaram a vanguarda revolucionária nos expurgos e impuseram a política do “socialismo em um só país” – um abandono completo da estratégia internacionalista de Marx, Engels, Lênin e Trótski. A perseguição à Trótski não se limitou só à sua pessoa, mas aos seus familiares E até nos dias de hoje seu nome passa por um revisionismo sádico e desonesto. Ele e sua obra não podem se limitar apenas às suas polêmicas com Lênin. Em A Revolução Traída (1936), Trótski mostrou que a burocracia não representava o socialismo, mas sim uma casta privilegiada que explorava os trabalhadores e usava o terror para se manter no poder.
O stalinismo não foi apenas um fenômeno soviético; ele teve efeitos globais que ainda hoje marcam a esquerda. Partidos comunistas ao redor do mundo foram transformados em correias de transmissão da política de Moscou, abandonando a revolução em nome de alianças com setores da burguesia. A traição da revolução espanhola (1936-1939), a subordinação dos trabalhadores à burguesia no pós-guerra e a repressão brutal contra dissidências revolucionárias são provas de como o stalinismo destruiu possibilidades históricas para a classe trabalhadora. A defesa da lV internacional mostra a abertura de discutir não apenas o marxismo de maneira mecanicista, mas olhar às atenuantes de opressão.
Nos dias atuais, enquanto o capitalismo entra em uma nova fase de crise estrutural, as lições de Trótski se mostram mais vivas do que nunca. Sua teoria da Revolução Permanente – que afirma que a luta pelo socialismo não pode se limitar a um país e que a burguesia nas nações periféricas é incapaz de realizar mudanças progressistas – segue essencial para entender os impasses da luta de classes no século XXI. Do fracasso das tentativas de conciliação de classe na América Latina ao autoritarismo do imperialismo global, a necessidade de um internacionalismo revolucionário se coloca com urgência.
A ascensão de novas burocracias dentro da esquerda, a cooptação de movimentos sociais e a repressão contra setores combativos mostram que as distorções do stalinismo não foram superadas. Resgatar Trótski não é apenas uma questão de justiça histórica, mas uma tarefa política para aqueles que querem uma alternativa real ao capitalismo. Seu pensamento oferece um guia para reconstruir uma esquerda revolucionária baseada na independência de classe, na democracia operária e na luta internacionalista pelo socialismo. À quem fala de “combater o trotskismo” e que “não existe stalinismo”: a maioria não conhece se quer um livro de Trótski e, se duvidar, nem Marx ou Lênin lêem direito. Se lessem críticas do programa de Ghota ou do próprio Estado e revolução, saberiam excepcionalmente o porquê do stalinismo ser contrarrevolucionário e a vulgarização total do marxismo.