Paulo Freire e a luta contra o analfabetismo usado como ferramenta de controle

Paulo Freire é um dos nomes mais emblemáticos da educação mundial, e sua contribuição ao ensino, especialmente voltado para adultos, continua sendo uma fonte de inspiração e debate até os dias de hoje. Seu método de alfabetização, que combina ensino crítico e conscientização política, não apenas mudou a forma como muitos brasileiros tiveram acesso ao aprendizado, mas também levantou questões sobre como o analfabetismo foi historicamente usado como ferramenta de controle social e político.

O Contexto do Analfabetismo e o Controle Político

Até meados do século XX, o Brasil vivia uma realidade em que o analfabetismo não era apenas uma barreira para o desenvolvimento pessoal, mas também uma estratégia política para manter as massas afastadas do poder. Uma prova clara disso foi a legislação que impedia analfabetos de votarem, perpetuando um sistema onde apenas uma elite educada decidia os rumos do país.

Nessa conjuntura, o conhecimento se tornava um privilégio, não um direito, e a exclusão educacional era um mecanismo efetivo de domínio. Para as elites, manter grande parte da população na ignorância significava também mantê-la subserviente e sem voz política. Foi nesse cenário que Paulo Freire emergiu como um educador revolucionário, com um sistema que visava, acima de tudo, devolver ao povo o protagonismo sobre sua própria existência.

O Método Paulo Freire

Criado nos anos 1960, o método Paulo Freire é mais do que uma técnica de alfabetização; é uma filosofia de educação libertadora. Baseado no diálogo e na experiência do aluno, o método parte da realidade concreta dos educandos. As “palavras geradoras”, muitas vezes retiradas do cotidiano das comunidades, são usadas para introduzir letras e sons, mas também para fomentar discussões críticas sobre as condições de vida dessas pessoas.

O foco do sistema freireano não é apenas ensinar a ler e escrever, mas desenvolver uma consciência crítica, permitindo que os educandos compreendam sua situação no mundo e se organizem para transformá-la. Para Freire, a alfabetização não podia ser neutra; ela deveria ser um ato político.

A Luta pela Democratização do Conhecimento

Freire entendia que a educação era um caminho essencial para romper com as estruturas de opressão. Durante sua experiência em Angicos, no Rio Grande do Norte, ele demonstrou que é possível alfabetizar adultos em apenas 40 horas de aulas. Esse resultado impressionante provou que o problema não estava na capacidade de aprendizado das pessoas, mas sim na falta de acesso a métodos inclusivos e respeitosos de educação.

A radicalidade de sua proposta fez de Freire um alvo durante a ditadura militar, que o considerava uma ameaça à ordem estabelecida. Exilado em 1964, ele levou seu método a diversos países, onde também ajudou a educar populações marginalizadas e a fortalecer movimentos de libertação.

O Legado Vivo

O legado de Paulo Freire ultrapassa as fronteiras do Brasil e é reconhecido em todo o mundo. Seu método é aplicado em inúmeras iniciativas de educação popular, e sua filosofia inspira a luta por uma educação mais justa e inclusiva. Mais do que ensinar a escrever, Freire ensinou que o conhecimento é uma ferramenta poderosa de emancipação.

Nos dias de hoje, quando o acesso à educação ainda é desigual e ameaçado por cortes de investimentos e propostas que desvalorizam a formação crítica, o pensamento freireano continua essencial. Ele nos lembra que a educação não é apenas uma questão técnica, mas uma prática que pode transformar a sociedade, libertar os oprimidos e construir um mundo mais igualitário.

Como Paulo Freire dizia: “Ninguém liberta ninguém, as pessoas se libertam em comunhão”. Assim, seu método permanece como um convite para que educadores e educandos trilhem juntos o caminho da liberdade.

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